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domingo, 26 de janeiro de 2014

Uma vez Escoteiro Sempre Escoteiro.....



Em Macapá, capital do Estado do Amapá em uma tarde qualquer do ano de 1997 por volta das 17h30min e um grupo de jovens com mochila nas contas começam a chegar, sorriso no rosto, ansiedade no coração; é só mais uma noite de acantonamento.

No horizonte o crepúsculo tenta se mostrar mesmo entre as nuvens de chuva que ainda persistem em querer atrapalhar o sonho de uma noite bonita e cheio de aventuras.

Um lindo coral de sapos e grilos é ouvido entre as folhas de mangueiras e a grama rasteira que margeia o alambrado do campo, vizinho a uma tradicional igreja da cidade, que recebe o nome do Messias, reservado para montagem das barracas.

De repente passam com as bandeiras nos braços, e uma fila de meninos e meninas uniformizados se coloca à disposição para ajudar na colocação das bandeiras nas adriças para hasteamento, o mais leve e forte é sempre chamado pra escalar o mastro alto e fino – “jamais entendi como ele nunca caiu”.

Três apitos se ouvem como um grande chamado. Vai iniciar a brincadeira séria de um modelo patriota de formação de caráter. Com a formação quase militar - exceto pela liberdade de sonhar - os meninos e meninas se colocam em fila indiana em movimentos de braços e bastonetes e com palavras de ordem que são proferidas num tom alto e determinado:

- Patrulha cobrir. Monitor; patrulha pronta. O grito!

- Chefe, Patrulha Rinoceronte se apresentando.

- Descansar...

A cerimônia de hasteamento das bandeiras é simples, mas de muito respeito.

Olhares curiosos fazem uma dança de dicotomia passada como uma ordem hierárquica, os lobinhos admirando os escoteiros, os escoteiros por sua vez sonhando em um dia estar na patrulha de Sênior, que por sua vez já se sentem meio pioneiros e chefes porque não.

Muita energia exala de cada jovem. A vontade de fazer as atividades do dia propõe a cada um uma sequência de ações que é orquestrada por uma disciplina conquistada ao tom de pequenas ações. O trabalho em grupo é a principal ferramenta de trabalho dos monitores e chefes.

Barracas, cozinha, portais, fogueiras e de repente o terreno vermelho de terra batida ganha cores e movimentos de vida. Sisais e bambus se transformam em cercas, mesas, e muitos objetos de uso coletivo. Estruturas amarradas viram espaços cobertos com grandes lonas prontas para montagem das cozinhas e intendências

Após o jantar, os esquetes do fogo de conselho sugerem uma dinâmica própria de desencantamento e desinibição induzindo ao drama, histórias do cotidiano e mensagens ligadas ao tema escolhido vão sendo contadas de forma cômica e divertida fazendo sorrisos e gargalhadas brotarem nos rostos avermelhados dos jovens expostos ao calor da fogueira que dançam em labaredas orquestradas pelo vento.

O equilíbrio pondera os erros, a técnica de aprender fazendo, conquista segurança no trabalho a ser feito, como nas decisões a serem tomadas. O respeito ao individuo e os valores inerentes a cada etapa da formação da personalidade, vão sendo inseridos no pequeno cidadão de forma simples e sem traumas.

A previsão de chuva acelerou o processo de desmontagem das barracas. Alguns reclamam o final da atividade outros reclamam a saudade de casa, mas enfim todos se orgulham da soma dos pontos conquistados nas diversas inspeções e apresentações das patrulhas.

Ao toque de três apitos é traçado mais um final.

- Chefe Patrulha pronta.

- Arrear a bandeira.

- Descansar

- Debandar

O caminho de casa é a busca de ao banho de ducha e ao chocolate quente preparado com carinho pela mamãe. Mas ficarão presentes em suas memórias estes momentos com certeza serão contados ou escritos como histórias em algum lugar do futuro.

- Mas hoje a bandeira é a meio mastro, estamos de luto oficial.

Esse movimento mundial, educacional, voluntariado, apartidário, sem fins lucrativos. Com proposta de desenvolvimento do jovem, por meio de um sistema de valores que prioriza a honra, baseado na Promessa e na Lei escoteira, e através da prática do trabalho em equipe e da vida ao ar livre, fazer com que o jovem assuma seu próprio crescimento, tornar-se um exemplo de fraternidade, lealdade, altruísmo, responsabilidade, respeito e disciplina, infelizmente está acabando.

Pelo menos para aqueles jovens do acantonamento, uma parte de suas vidas foi arrancada deles sem pedir licença, e mesmo com o sentimento vivo em cada um deles, e laços de amizades que irão durar a vida toda, é inaceitável que valores tão divinos, já não têm importância para a juventude atual...

Uma vez escoteiro sempre escoteiro...