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quarta-feira, 30 de abril de 2014

Xingar de macaco: uma pequena história de uma ideia racista

“Para entender o poder e o escopo do xingamento de macaco, precisamos de uma dose de história”. É o que pensa James Bradley, professor de história da Medicina/Ciência da Vida na Universidade de Melbourne, autor do texto abaixo, traduzido pelo professor da Uneafro-Brasil e doutorando em literatura da USP, Tomaz Amorim Izabel.
Nas últimas 24 horas muito foi dito e escrito sobre Daniel, Neymar, bananas, macacos e racismo. Não sou um acadêmico e tampouco jornalista. Não passo de um mero professor de rede pública estadual de São Paulo e mais um militante do movimento negro.     O que formulei sobre o assunto nada mais é que fruto do acúmulo das lutas concretas. Do ensinamento que recebi d@s lutador@s mais velh@s e o que aprendi com meus iguais. E as afirmações são simples:
      O racismo é algo sério, não podemos brincar com ele;
Daniel promoveu uma reação interessante, deu visibilidade ao debate sobre racismo, mas a forma e o conteúdo de seu “protesto” não nos serve.           Tampouco a reação de Neymar, que agora sabemos, não partiu dele;
A maioria dos atletas, principalmente no futebol, são alienados e não tem opinião qualificada sobre temas relevantes para a sociedade. E isso não é preconceito ou generalização, mas sim uma constatação mais uma vez comprovada. Só falam bobagens e no máximo se prestam a assistencialismos em seus territórios de origem, vide Pelé, Zico, Ronaldo, Cafú entre outros;
       Comparar negros a macacos é racismo e não podemos admitir; Fortalecer a ideia de que devemos absorver ofensas racistas é um desrespeito à população negra, além de um golpe ideológico: “Sofram calados, não façam escândalo, levem na esportiva”;
        Não somos todos macacos! Somos negr@s e merecemos respeito;
A campanha de Luciano Huck e Neymar é racista. Suas camisetas e seu vídeo são racistas. E ganhar dinheiro com uma campanha racista é canalhice, simples assim.
      Ou, daqui pra frente, será tranquilo para você levar bananadas por aí e fingir que não se sentiu ofendido?
     A ordem é rir da situação para desmobilizar o agressor, tal qual nos orienta papai e mamãe: “Filh@, quando te chamarem de macaca, leva na brincadeira que é melhor! Se você se irritar, aí é que o o apelido pega!”. Pois o que precisamos é desobedecer essa orientação e denunciar a agressão.
Para qualificar o debate, segue abaixo o texto do professor Bradley.


Seguimos!



A maioria de nós sabe que chamar alguém de macaco é racismo, mas poucos de nós sabem por que macacos são associados na imaginação europeia com indígenas e, principalmente, afrodescendentes.

Para entender o poder e o escopo do xingamento de macaco, precisamos de uma dose de história. Quando eu era aluno de graduação na universidade, eu aprendi sobre racismo e colonialismo, particularmente sobre a influência de Charles Darwin (1809-1882), dos quais as ideias pareciam fazer o racismo ainda pior.

Na verdade, isto é fácil de inferir. A teoria da seleção natural de Darwin (1859) mostrou que os ancestrais mais próximos dos seres humanos foram os grandes macacos. E a ideia de que os homo sapiens descendiam de macacos se tornou rapidamente parte do teatro da evolução. O próprio Darwin foi muitas vezes representado como meio-homem, meio-macaco.

Além disso, enquanto a maior parte dos evolucionistas acreditava que todas as raças humanas descendiam do mesmo grupo, eles também notaram que a migração e a seleção natural e sexual tinham criado variedades humanas que – aos seus olhos – pareciam superiores a africanos ou aborígenes.

Ambos estes grupos tardios foram frequentemente representados como sendo os mais próximos evolutivamente dos humanos originais e, portanto, dos macacos.

O papel do pensamento evolucionista

No começo do século XX, o aumento da popularidade da genética mendeliana (nomeada em referência a Gregor Johann Mendel, 1822-1884) não fez nada para destituir esta maneira de pensar. Se é que ainda não piorou as coisas.

Ela sugeria que as raças haviam se tornado raças separadas e que os africanos, em particular, estavam muito mais próximos em termos evolutivos dos grandes macacos do que estavam, digamos, os europeus.

E ainda assim, durante este mesmo período, sempre houve uma corrente da ciência evolutiva que rejeitou este modelo. Ela enfatizava as profundas semelhanças entre diferentes raças e que as diferenças de comportamento eram produto da cultura e não da biologia.

Os horrores do Nazismo deveram muito ao namoro da ciência com o racismo biológico. O genocídio de Adolf Hitler, apoiado de bom grado por cientistas e médicos alemães, mostrou onde o mau uso da ciência pode levar.

Isto deixou o racismo científico nas mãos de grupos de extrema direita que só estavam interessados em ignorar as descobertas da biologia evolutiva do pós-guerra em benefício de suas variantes pré-guerra.

Claramente o pensamento evolucionista teve algo a ver com a longevidade do xingamento de macaco. Mas a associação europeia entre macacos e africanos tem um pedigree cultural e científico muito mais extenso.



Pego no meio

No século 18, uma nova maneira de pensar sobre as espécies emergiu. Anteriormente, a vasta maioria dos europeus acreditava que Deus havia criado as espécies (incluindo o homem), e que estas espécies eram imutáveis.

Muitos acreditavam na unidade das espécies humanas, mas alguns acreditavam que Deus havia criado espécies humanas separadas. Neste esquema, os europeus brancos eram descritos como próximos aos anjos, enquanto africanos negros e aborígenes estavam mais próximos aos macacos.

Muitos cientistas do século XVIII tentaram atacar o modelo criacionista. Mas, ao fazê-lo, acabaram dando mais poder para o xingamento de macaco.

No meio do século XVIII, o grande naturalista francês, matemático e cosmólogo Comte de Buffon (Georges-Luis Leclerc, 1707-1788) deu continuidade à ideia de que todas as espécies de animais descendiam de um pequeno número de tipos gerados espontaneamente.

Espécies felinas, por exemplo, supostamente descendiam de um único ancestral gato. Ao migrarem do seu ponto de geração espontânea, os gatos degeneraram em diferentes espécies sob influência do clima.

Em 1770, o cientista holandês Petrus Camper (1722-1789) pegou o modelo de Buffon e aplicou-o ao homem. Para Camper, o homem original era o grego antigo. À medida que este homem original se moveu do seu ponto de criação ao redor do mundo, ele também degenerou sob influência do clima.

Na visão de Camper, macacos, símios e orangotangos, eram todos versões degeneradas do homem original. Então, em 1809, o ancestral intelectual de Darwin, Lamarck (Jean-Baptiste Pierre Antoine de Monet, Chevalier de Lamarck, 1744-1829) propôs um modelo de evolução que via todos os organismos como descendentes de um único ponto de criação espontânea.

Larvas evoluíram em peixes, peixes em mamíferos e mamíferos em homens. Isto aconteceu não através da seleção darwinista, mas através de uma força vital interna que levava organismos simples a se tornarem mais complexos, trabalhando em combinação com a influência do meio ambiente.

Deste ponto de vista, humanos não compartilhavam um ancestral comum com macacos; eles eram descendentes diretos deles. E africanos então se tornaram a ligação entre macacos e europeus. A imagem popular comumente associada com a evolução darwinista da transformação de estágios do macaco ao homem deveria ser propriamente chamada de lamarckiana.

O poder do racismo

Cada uma dessas maneiras de pensar o relacionamento entre humanos e macacos reforçou a conexão feita por europeus entre africanos e macacos. E fazendo parecer que pessoas de origem não-europeia eram mais como macacos do que como humanos, estas diferentes teorias foram usadas para justificar a escravidão nas fazendas das Américas e o colonialismo no resto do mundo.

Todas estas diferentes teorias científicas e religiosas trabalharam na mesma direção: para reforçar o direito europeu de controlar grandes porções do mundo.

O xingamento de macaco, na verdade, tem a ver com a maneira com a qual os europeus, eles mesmos, se diferenciaram, biológica e culturalmente, em um esforço de manter superioridade sobre outros povos.

A coisa importante a se lembrar é que aqueles “outros” povos estão muito mais cientes daquela história do que os europeus brancos. Invocar a imagem de um macaco é utilizar o poder que levou à desapropriação indígena e a outros legados do colonialismo.

Claramente, o sistema educacional não faz o bastante para nos educar sobre ciência ou história da humanidade. Por que se fizesse, nós veríamos o desaparecimento do xingamento de macaco.



Por James Bradley – do The Conversation
Professor de História da Medicina/Ciência da Vida na Universidade de Melbourne.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

O tempo é agora...

      Acho que todo mundo uma vez na vida se dá conta de que a vida está ai para ser curtida, todo mundo uma vez na vida vai perceber que segundas chances não existem, e que voltar no tempo e refazer ou deixar de fazer é impossível, todo mundo uma vez na vida já chegou à conclusão de que o momento certo é agora.
    No início do século passado Albert Einstein formulou fisicamente o que hoje parece ser a coisa mais sensata e simples do mundo, “O TEMPO É RELATIVO”. Não quero falar de constantes cosmológicas, campos gravitacionais ou como é a aplicação disso na física quântica, nem poderia, não entendo absolutamente nada disso. O que eu quero é falar de como a relatividade do tempo influencia nossas vidas,  nada como objetos superdensos superando a fibra do espaço tempo, mas sim falar de nós, seres tão pequenos se comparados à imensidão infinita do cosmos e que ainda sim, conseguimos sentir a relatividade da vida.
       Einstein me perdoe os erros, mas no meu entendimento, dizer que o tempo é relativo é dizer que ele passa ou flui em velocidades diferentes dependendo do que estamos fazendo. É fácil notar isso: Sabe aquela aula chata, o professor fala um milhão de idiossincrasias quase indecifráveis e que parece não ter fim? O mesmo tempo em um final de semana com os amigos passaria em um piscar de olhos, na fila de um banco devagar quase em câmera lenta; agarrado em um beijo com a pessoa amada as horas viram segundos.
       Deu pra pegar a ideia? O negócio é não priorizar os momentos chatos que levam nosso tempo em detrimento aos momentos bons e rápidos. Seria o viver a vida, aproveitar o dia, aproveitar o momento.
         Na última sexta-feira dia 25 de abril vivenciei um desses momentos que fazem o tempo parar. Uma aula de Filosofia Antiga na melhor turma de filosofia do Amapá. A professora Tatiana soube elaborar um debate incrível e os meus companheiros de turma tocaram o debate e as apresentações brilhantemente. O tempo passou voando e ao final estávamos todos extasiados com os filósofos gregos.
           Penso ser o tempo o grito de toda uma geração, A Geração dos que eu chamo de: “Geração que Viveu a última grande infância”. Hoje tudo é tão rápido, efêmero e inconstante. Nós que somos um pouco mais velhos que o Tocantins passamos mais tempos presos entre uma infância que insistia em não acabar e uma vida adulta que demorou a chegar. Agora não confunda o aproveitar ao máximo o tempo com irresponsabilidade. Na nossa época existia tempo pra tudo, houve tempo de brincar, de curtir, de se dedicar, de lutar, enfim fazíamos tudo no seu tempo.
           Agora cursando Filosofia na LFL 2014.3 da Universidade do Estado do Amapá é o tempo de evoluir e prioritariamente é tempo de transformar e ser transformado. Obrigado a todos, foi sem dúvida a melhor escolha.



quarta-feira, 9 de abril de 2014

A GRANDE PENSADORA CONTEMPORÂNEA

O que é Sociedade?

        Sociedade é um conjunto de seres que convivem de forma organizada. A palavra vem do Latim societas, que significa "associação amistosa com outros".
        Todos sabem que viver em sociedade não é nada fácil, exige muito de cada um, exige muita tolerância, respeito, mas respeito mútuo, não basta exigir respeito e não respeitar.
        Viver em uma sociedade é estar pronto para conviver com pessoas e grupos diferentes, com gostos diferentes, com opiniões divergentes.
        E em uma sociedade como as dimensões continentais como a nossa as divergências são infinitas e o é preconceito imperante. Tem-se preconceito com quase tudo: Negros, Pobres, Mulheres, Loiras, Nordestinos, Homossexuais, Gordos, Magros, Baixos, enfim tudo é um motivo para descriminar e achincalhar quem deveria ser o próximo.
        Toda forma de preconceito discriminatório é vergonhoso e estúpido e como tal deve ser combatido, mas queria falar de um preconceito bem vivido e quase nem notado, o preconceito musical. Existem diversos estilos musicais para diversos tipos de público, os quais atribuem seus gostos pessoais e preferencias.
        Até ai nada de mais, isso é natural, o problema é que muita gente se acha no direito de dizer que seu estilo musical superior, mais correto, o estilo correto. Assim usam seu gosto pessoal pra descriminar as pessoas que gostam de estilos diferentes.
        O preconceito musical é diferente dos outros tipos de preconceitos, pois o preconceito referente à diversidade de estilos e gostos musicais não é própria e puramente iniciada dentro da música. Em outras palavras, o preconceito na música não se inicia com a própria música, sendo apenas a extensão de outros tipos de preconceito que, por consequência, se prolongam, não tão somente no Ramo, como também em outras formas de Arte.
        Essa semana um professor de filosofia usou o trecho de uma conhecida funkeira carioca em uma de suas provas e na descrição a trata como grande pensadora contemporânea. Pronto foi o suficiente para desencadear uma rede de insultos e criticas, tanto ao professor, quanto a própria cantora. Até os que se intitulam intelectuais partiram para uma chuva de petardos virtuais. Li um que resumia bem o nível do preconceito e da discriminação: “Chamar uma funkeira vulgar, imbecil e sem talento algum de "grande pensadora" é pra acabar com o país de vez!”. Não sou admirador do estilo musical em questão, e até concordo que o professor poderia ter usado outros exemplos bem mais acadêmicos, mas isso não me dá o direito de ofender o professor, tão pouco a artista.
        Tanta ignorância e intolerância! Até pela Arte o Homem consegue manifestar seu descontentamento desrespeitoso para com o outro... Eu não quero dizer que não há música, de fato, maliciosa, apelativa, inconveniente e até imprópria, mas quero dizer que, mesmo nestas condições, a ética (aliás, a moral) deve sempre estar à frente de tudo, pois, se tal canção existe, a causa está nas pessoas ouvem e interiorizam-na como Música.
        Se você não gosta é um direito seu tecer criticas, só não confunda ofensas, desrespeito e preconceito com críticas. A realidade é que não podemos decidir o que os outros irão gostar, com o que irão se identificar o que irão fazer. Enfim, não podemos - e não devemos - querer determinar como as pessoas irão viver. Afinal, não gostaríamos que as outras pessoas fizessem ou tentassem fazer isso conosco. Portanto, deixemos o preconceito de lado. Somos diferentes e há estilos musicais diferentes. Ser diferente não significa ser inferior.

        No mais é só “beijinho no ombro pro recalque passar longe”.