Pode parecer estranho que
ainda seja necessário falar de um assunto aparentemente epidérmico. Todavia, o
momento é mais adequado porque sinto e vejo muita injustiça discrepante
travestida de clamor por originalidade e acusações chegando via rede social e
suas famigeradas indiretas.
No ambiente acadêmico (pelo
menos nas licenciaturas) quase que a totalidade dos trabalhos monográficos é de
revisão bibliográfica, quase nada é de fato original. E isso nem chega a ser um
problema, pelo contrário é estimulado e enaltecido até. Então cabe a pergunta:
Se você de fato não suporta que outros usem informações que supostamente são
suas, que raios você faz em uma universidade revisando obras de outros?
Olha plágio é um assunto
sério, plágio não é só um deslize acadêmico, plágio é crime previsto no Código
Penal Brasileiro, e na lei 9610. Mas óbvio que em um ambiente que se propõe apenas
a revisões o risco de tecnicamente plagiar é grande. Agora vamos usar um pouco
de razoabilidade e concordar que se em um ambiente técnico de produção acadêmica
o risco é grande, imagina com correntinhas de rede social.
Quando alguém escreve
dizendo que falta água no Cantareira outro vem e repete, ainda que o segundo
assine, acho deselegante acusar de plágio. Imputar crime a alguém é tão serio
quanto o próprio crime. Sempre defendi que em nossos julgamentos precisamos do mínimo
de discernimento, imparcialidade e principalmente razoabilidade. Não basta
gritar indignação se nós mesmos um dia já agimos da mesma maneira, ou pior,
quando um amigo age da mesma maneira e não falamos nada.
Porque além da fraude, do
plágio e do chamado autoplágio, ainda existem outras praticas, como o
retalhamento ou fracionamento da produção, a multiplicação dos autores e a
combinação das citações (“eu te cito, você me cita”). Quanto a arranjos e
combinações, certamente existem, abarcando lealdades institucionais, de
indivíduos e de grupos, mas não é especialmente preocupante. O fracionamento da
produção e o retardamento das publicações, que geram uma situação danosa para
os rumos da pesquisa. Mas o que me assusta é o comportamento de proeminentes
colegas atirando petardos virtuais, requerendo a autoria de textos genéricos e
fracionados. A isso se soma o ‘requentamento’ e a repetição de publicações, que
parecem ligados ao auto-plágio (termo pouco adequado, já que plágio é roubo e
não faz sentido roubar de si mesmo, como ‘autoplágio’ sugere). Bastante
difundidas, essas ações não são menos deletérias, exigindo também pronto
combate.
Se me fosse permitido
aconselhar meus amigos graduandos, diria que devemos fazer como acadêmicos de
verdade que resolvem suas divergências em conversas civilizadas no banco de um bar
com uma boa cerveja gelada. E não como adolescentes mimados e encantados com o fantástico
mundo das indiretas em rede social.
Isso é originalidade.