Sei
que alguns hábitos meus podem se – se as pessoas soubessem – ser confundidos
facilmente com loucura ou simplesmente falta do que fazer. Entre esses hábitos,
tenho o costume de sempre tentar dar o mesmo número de passos nas divisões da
calçada, outra dessas excentricidades é que sempre fecho a porta da geladeira
lentamente para conseguir ver quando a luz apaga. Mas ultimamente criei o
hábito, mais assustador de todos, que é de dividir as pessoas em dois grupos
distintos, bem, talvez com tanto sectarismo rolando solto por ai, isso nem é um
hábito tão exótico assim. Contudo, os critérios que utilizo pra essa divisão é
que podem impressionar vocês, mas não me julguem, apesar do aparente absurdo, muito
pode se revelar dessa minha nova habilidade maniqueísta, é óbvio que apenas em um
cenário epistemológico da filosofia da mesa de bar.
Então
afirmo, por exemplo:
As
pessoas se dividem entre os que quando trocam de roupa vestem primeiro a parte
de cima e entre as pessoas que vestem primeiro a parte de baixo. Lembram que
falei do aparente absurdo em meus critérios? Mas uma breve reflexão nos mostrará
bem além do que nossa primeira opinião pode diagnosticar, assim, quando o
sujeito encontra-se sem roupa, desnudo, fragilizado por seu estado natural de existência
e tem que optar pela peça prioritária que vai cobrir sua intimidade, entra em
ação toda uma construção de filosofias do senso comum e deliberações de seu
estilos de vida mais intrínseca. Em um dos lados, os calceiros, a galera que prefere a calça à camisa. Suas defesas
são por uma bandeira de normalidade, legitimando suas escolhas no tradicional papo
moralista sobre o efeito agressivo que seria andar por aí sem calças. Na outra
extremidade, os camiseiros, advogados
voluntários do nada e de uma cultura de rebeldia sem causa. Seu argumento é a afirmativa
eterna da contrariedade, contrariar para progredir.
Assustei
vocês com o nível de filosofia em um ato que aposto passou despercebido tanto
tempo heim? Mas não parei por ai, consegui fazer outra divisão, a galera que na
universidade estaciona de ré e os que estacionam de frente. Esse foi até óbvio
demais, os que gostam de estacionar de ré são pessoas mais versáteis, com habilidades
diferenciadas no senso de direção e preparadas para as intempéries da vida. Os outros,
a galera que vem de frente mesmo –acredito que a imensa maioria dos acadêmicos,
professores e técnicos – é o tipo de pessoa que adora deixar o trabalho mais pesado
sempre pra depois, adoram protelar as tarefas mais dificultosas que a vida nos
oferece. É aquele pessoal que estuda só uma noite antes da prova, que fica
torcendo pro professor adoecer e faltar. Só pra constar, é o mesmo pessoal, que
na hora do almoço, come logo a carne ou o frango e fica o resto da refeição
bicando o arroz e o feijão e sempre deixam muita comida no prato.
Ainda
tem mais outras divisões e alguns outros hábitos estranhos, como por exemplo, sempre
tomar água gelada depois do café, e ainda divido o mundo entre os que tomam
banho de sandália e sem sandália. Contudo, é informação demais pra um único
post, e meu medo é de parecer mais louco do que já pareço, e sei que alguém pode
se opor as minhas divisões interpretações, respeito esse direito, mas podem ser
atalhos, para a percepção mais divertida deste mundo, o meu mundo.
E,
além do mais, o mundo é cheio de divisões e hábitos mais estranhos, não é? Tem
um país que você compra um carro com seu dinheiro e ainda tem que pagar pra usá-lo, tem os que
dividem as pessoas pela cor da pele, pela condição sexual, local de nascimento,
pelo poder aquisitivo e até pela circunferência abdominal, bem, olhando assim,
acho que o louco não é eu.