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quinta-feira, 17 de setembro de 2015

PRA SER DE “HUMANAS” PRECISA DE DEDICAÇÃO E DE TALENTO

Acho que minha obsessão compulsiva consumista é muito seletiva, em parte por minha capacidade aquisitiva, que é bem restrita, e em outra, por algum pressuposto de responsabilidade intelectual, o que me faz principalmente querer sempre ter mais livros e filmes. O que deveria fundamentalmente ser o perfil de todos os estudantes de “humanas”, que para mim é sim bastante heterogêneo em relação a muitos aspectos, como orientação política, classe social e preferências culturais. Mas que deve ter algumas características fundamentais: o domínio da linguagem (especialmente escrita), o senso crítico e o gosto pela pesquisa. Esses alunos devem dedicar longas horas à leitura e reflexão, com o objetivo de gerar conhecimento sobre a sociedade e colocar esse conteúdo a serviço dos diversos grupos sociais. 

No caso de meus livros devo admitir que boa parte dos meus títulos são da editora “Martin Claret”, isso se deve como já disse, ao meu poder aquisitivo que é absolutamente limitado, e livro é um produto extremamente caro em nosso país, e ainda acham estranho uma juventude que raramente lê. O fato é que os livros da “Martin Claret” são razoavelmente baratos se comparados com as editoras ditas importantes. Disse ditas importantes, pois, eu não sei como é em outras Universidades Públicas, mas na Universidade do Estado do Amapá – UEAP, essa editora é majoritariamente vilipendiada pelo corpo docente, e como tenho vários defeitos, menos de aceitar tudo passivamente, resolvi pesquisar a origem de tanto ódio.

Descobri que possivelmente essa “opinião” sobre a “Claret” tem origem no fato dela ter sido processada por plágios de traduções, além de ser acusada de vários outros casos ainda não confirmados, um deles é o dos títulos de literatura estrangeira que a “Martin Claret” publica como quase sempre sendo do mesmo tradutor, um tal de "Pietro Nassetti", a suspeita é que a Claret está se valendo da obra de outros tradutores e assinando como se fosse desse genial senhor "Nassetti" que traduz do grego, latim, alemão, francês, inglês, e etc. Óbvio que isso é muito suspeito, mas a pergunta que não quer calar é: isso é suficiente pra um colegiado inteiro dedicar parte de seus dias não recomendando tal editora? Devo discordar e dizer que isso não é o suficiente.

Ora, plagio é sim algo ruim, e não deve ser incentivado, mas em nenhum, disse nenhum caso a “Martin Claret” é acusada de tradução ruim, ou não condizente com o texto original, afinal os caras estão plagiando as traduções boas não é. Nenhum caso não, exceto como já disse é acusada de ter a qualidade comprometida por alguns professores da grandiosa UEAP. O que eu quero dizer é que nossa Universidade é pequena, ainda tá engatinhando, é limitada, e principalmente no acervo bibliográfico que é praticamente irrisório. 

Se toda essa briga é apenas pelo espólio aos tradutores. Meu posicionamento na questão é que EU NÃO VOU DEIXAR DE COMPRAR LIVROS DA “MARTIN CLARET” pelo menos enquanto isso for possível. Isso porque minha Universidade que é pública e deveria ser também gratuita não me garante livros suficientemente bons para minha formação, tenho que compra-los e não ganho tanto quanto um Doutor que nasceu, cresceu e formou-se em grandes centros com mais possibilidades e oportunidades. E além do mais, eu acho que eles têm feito um grande trabalho para democratizar e popularizar a leitura em nosso país. Nas primeiras páginas de seus livros sempre há um texto informativo sobre a missão, visão e valores da empresa, no qual eles admitem que se utilizam de meios ortodoxos e "heterodoxos" para comercializar suas obras. O que eu fico pensando é se esses meios "heterodoxos" não são mesmo uma ação consciente sobre a indústria editorial brasileira que realmente não parece se importar com a instrução das classes mais baixas, resguardadas algumas exceções.

Aos meus professores, peço que não se preocupem comigo, minha falta de modéstia diz que minha formação mesmo com a ajuda da “Claret” é notadamente superior aos seus “orientandos” ávidos difamadores por mímica da Martin Claret. Aos meus pares devo aconselhar que comprem livros sempre, mas se puderem, comprem de editoras mais respeitadas, assim fomentamos a indústria da educação, e não compactuamos com plágio. Contudo, se não tiverem tanta grana pra dar em livros caros, comprem os livros da Martin Claret sem medo, na pior das hipóteses estarão lendo e isso é sempre bom, aos limitados repetidores de preconceito digo, que pra gente limitada nem se os próprios autores dos livros ressuscitarem e fossem explicar vocês iriam entender, porque pra ser de “humanas” precisa de dedicação e de talento, e pelo que vejo, vocês não tem nem uma coisa nem outra.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

NÃO CONSEGUI ESCREVER, NÃO CONSEGUI EXPLICAR, NÃO CONSEGUI DAR UM SIGNIFICADO.

Pensando bem nos últimos dias, foi obrigado a tentar escrever, a tentar interpretar, ou seja, dar um significado aos acontecimentos recentes sobre os refugiados na Europa. Oriundos principalmente do Oriente Médio e do norte da África, fugidos das guerras e da fome. São chamados de migrantes, refugiados, imigrantes ou candidatos ao direito de asilo. Quando conseguem chegar à Europa muitos viram alvo de rejeição e ódio xenofóbico, mas, só os que conseguem chegar. 

Milhares morrem na travessia do mar ou no caminho por terra, mas o acontecimento que invadiu meu coração e me fez cair em lagrimas foi à imagem da criança síria morta em uma praia da Turquia. A face mais cruel da crise migratória na Europa foi escancarada da maneira mais dolorosa possível, e enquanto os líderes europeus progressivamente tentarem impedir os refugiados e imigrantes de se protegerem no continente, mais e mais refugiados irão morrer em seu desespero para escapar da perseguição da fome e de séculos de guerras e exploração fomentada pela ganância deles próprios europeus.

Todo o horror da tragédia humana que vem acontecendo no litoral da Europa me fez pensar na “teoria da bondade natural de Rousseau”, se de fato as pessoas são naturalmente boas, por que estão tão más e cruéis? Como a natureza pode ser boa e mais a frente à crueldade ser levada a limites incalculáveis? Acho que esse foi o paradoxo fundamental da filosofia de Rousseau, ele seria até capaz de responder a questão, mas nada vai fazer aquela criança levantar e viver uma vida melhor ao lado de sua família. 

Disse que tentaria escrever, que tentaria explicar, tentaria dar um significado, mas confesso minha incapacidade, sou incapaz de olha essa cena daquele menino jogado sem vida, e não pensar que poderia ser um dos meus filhos, e o quanto a dor seria insuportável, inexplicável, imensurável. Mas a questão Conspícua é que já chega disso, é hora do mundo se unir e dar um basta nessa crueldade e obrigar a Europa a abrir suas fronteiras e impedir o genocídio.

É o mínimo que a Europa deve ao mundo depois de séculos de colonização, exploração, tráfico humano, exploração do trabalho, dos recursos naturais, séculos de racismo, séculos disso até arruinar países que eles consideravam culturas inferiores, e a cada década investindo em guerras, pra poder vender suas bombas e bombardear esses países até que cada cidadão resolvesse se arriscar no mar a fim de tentar fugir de seu próprio país de sua própria casa, com a esperança de um lugar melhor, mesmo tendo que aturar ódio e xenofobia.