Penso
Vivo
Vivo inserido num
tempo,
Num espaço suspenso
Só penso?
Não. Também sinto
Sinto o tempo que passa
e com ele me vou como fumaça
Fumaça lenta,
diluindo-se no espaço...
O que faço?
Penso
Vivo
Sinto
Tudo o que está em
minha volta
Olho cada coisa...
E quase todas me causam
revolta
Continuo fumaça lenta,
diluindo-se no espaço
Mas o que faço?
Penso
Vivo
Sinto
Olho
E vejo um povo mudo com
uma dor contida,
Mas não lhe tiro a
mordaça,
Calo como quem cala
numa causa perdida
E continuo fumaça lenta,
diluindo-se no espaço.
Ainda sim, o que faço?
Penso
Vico
Sinto
Olho
Calo
E não falo, mesmo
diante de tanta verdade
Também não ouço
Os que são atingidos
por essa verdade
Então eu paro
Mas, continuo fumaça
lenta diluindo-se no espaço.
Mas afinal, o que faço?
Penso
Vivo
Sinto
Olho
Calo
Paro
E fico perplexo com
tantos rumos diferentes
Cada um conduz a um
ponto
Um ponto que não existe
você sente?
Paro
Olho em minha volta e o
que vejo?
Um mesmo povo mudo.
Uma justiça de olhos
abertos, com o polegar direito apontado
E mil estradas no mesmo
espaço
Então corro, tentando
fazer alguma coisa
Mas, continuo fumaça
lenta diluindo-se no espaço
O que faço?
Penso
Vivo
Sinto
Olho
Calo
Paro
Corro
E não chego a lugar
nenhum
Morro...
Morro fumaça lenta que
nada fez
Morro homem fumaça que
no espaço se desfez...