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terça-feira, 21 de junho de 2016

SEMPRE AMEI MISTÉRIOS E TALVEZ POR ISSO TENHA ME TORNADO UM

Sic transit gloria mundi. Tenho uma admiração por esta expressão latina. E gosto em particular por conta do advérbio ou melhor a conjunção ou locução adverbial “assim”. Ela indica como acaba, como é a conclusão da sentença, e na expressão em latim como acaba a glória do mundo. Ela sempre me faz pensar como vai acabar a minha passagem no mundo. Eu preciso frente os prognósticos das possibilidades, reconhecer que poucos ou talvez ninguém me conhece, não realmente ao ponto de emitir prognósticos. Isso em parte por que sempre amei mistérios, e talvez por isso tenha me tornado um. Os que mais sabem de mim só sabem algo próximo da metade. Não deixo, nunca deixei e quem sabe nunca deixarei todos os meus mistérios escaparem de mim. Aos mais próximos antecipo minhas desculpas e ressalto que apenas é assim porque não quero assustar vocês com meu verdadeiro eu. E hoje resolvi dar um pouco a mais de mim para que todos, ou apenas aos poucos e raros que acompanham meus escritos: Tenho minha glória no mundo e ela é literalmente ser outra pessoa. 

Vejam, isso é como eu me identifico, e para mim identidade é toda amostra pela qual o indivíduo se atribui, mas isso prioritariamente por intermédio de um relato, uma declaração de continuidade com relativa coerência, é onde eu tento circunscrever uma diferença marcante, especifica dos demais. E meu relato é que meu cérebro sempre fervilha, minha cabeça está sempre dia após dia cheia de vozes. É como se eu fosse seguido por um genioso enxame de almas que usam as ligações elétricas do meu cérebro para conversar umas com as outras e por vezes preciso abrir as comportas de ideias que borbulham, umas precisam ser descartadas. Acredito sem a menor pretensão de presunção que possuo um considerável superávit intelectual que deve ser descarregado constantemente. Ou seja, a intervalos regulares, preciso me sentar e aliviar o excesso de ideias. E as vezes tenho a certeza de ter formulado o axioma mais genial do mundo. E logo em seguida não tenho mais tanta certeza. Com essa luta eu acabo raramente lembrando de algo e não formulo coisa alguma.

Sou muito instável e qualquer solavanco que o carro da vida da eu me desnorteio, me acabo em lagrimas e juras de ódio à vida.Mas essa é minha terra invisível, pois, como disse há em mim mais mistérios do que alguém possa imaginar. Há em mim duas forças, uma delas quer viver e me puxa para cima e a outra nem tanto. É a partir desse momento que somatizo todos os medos que carrego comigo e que poderá, no futuro, me impedir à abertura para o outro e para a saída de mim mesmos, é a partir desse momento que posso me fechar de vez para o encontro, ou então, torno-me, de vez, um ser aberto ao amor e ao ódio. No entanto, se ultrapassada esta fase, que também não termina, entro, enfim, de pés no chão e corpo ereto, porém não sem marcas, na fase da melodia da relação de vida fluída, fazendo de mim mesmo uma melodia harmoniosa.

Nessa nova melodia os acordes dissonantes das paixões da minha infância se encaixarão agora como complemento harmônico de toda a melodia, os de átona invertida, da adolescência, agora serão a marcação do ritmo, e os acordes simples e perfeitos da maturidade, garantirão a harmonia de minha vida que me fará sentir como se sente um noturno de Chopin. Acredite nisso, só não é verdade. Eu não consegui passar de fase, eu parei nas notas tônicas da adolescência que não queria se livrar de toda a discordância da infância. Isso me levou pra maturidade sem uma partitura de vida pronta, ou pelo menos uma base rítmica capaz de criar uma melodia minimamente harmoniosa. Cheguei apenas com uma utopia que a filosofia me fez querer realizar que reclamo durante os fragmentos de felicidade, mas que também me fez vociferar, neste manifesto, pela falta de quem a ouça, pois, são apenas assobios silenciosos de uma ausência.E, se é verdade o que dizem; que a utopia é um lugar que não existe, também tendo em vista a verdade ouso afirmar, que a ausência, é um lugar outrora ocupado.

Portanto, a utopia é mesmo um sonho indispensável aos que querem construir algures o real. E o princípio para tornar este sonho concreto é acreditar, pois toda utopia é um sonho verossímil, e como todo sonho, traz consigo a possibilidade do despertar. Ainda vejo tempo pra reescrever minha nova nona sinfonia, e ao final, quando assim acabar a glória do meu mundo, espero ter alguém pra ouvi-lá.

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