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quinta-feira, 9 de abril de 2015

APESAR DA VISÃO FULGURANTE CONTIDA NESSA NARRATIVA SOU APENAS UM ANJO CAÍDO EM UM MUNDO DEGRADADO, QUERENDO NÃO SER ANJO.

Nunca quis falar sobre o amor, já tem tanta gente falando, dizendo, explicando, dando suas características ao amor como se essas fossem parte inerente dele. Fora que não me agrada a ideia de alguém dizendo que é só mais uma postagem boba sobre amor. Entretanto, acho oportuno em momentos de maremotos afetivos falar sobre seus ventos, então escreverei sobre amor, sobre sexo e filosofia e deixo com vocês como interpretá-lo. 

Evidente que quando falamos de amor algo nos remete a afeição, amizade, família, ligação transcendental e claro, sexo. Um sentimento, uma sensação, um estado de percepção dos sentidos que faz com que os indivíduos afigurem o ideal de belo, digno ou superior. Mas, a nós vale ressaltar que o amor vai além das aparências estéticas e de ordem interior, a capacidade que só este sentimento tem de sobrepujar as formas físicas da aparência é que faz dele misterioso. Agora não posso esquecer que falei que iria usar a filosofia, e o que diz ela sobre o amor? Para Platão, o amor é a busca da beleza, da elevação em todos os níveis, o que não exclui a dimensão do corpo. Contudo, isso tem estrita relação com a filosofia em si, pois, nasce como um amor pelo conhecimento que faz sua morada na procura de mais conhecimento.

Então amor, ou amar é conhecer, até querer conhecer sempre. Mas isso é muito raso pra ser tido como um conhecimento filosófico, e poderia ser questionado se essa concepção ainda faz sentido em tempos de exagerado culto à coisificação do prazer? Mas será que essa concepção é de fato característica apenas dos tempos modernos? O arqueólogo Timothy Taylor no livro "A Pré-História do Sexo", diz que homens da Pré-História já distinguiam sexo de reprodução, usavam cosméticos naturais para incrementar a paquera, faziam sexo em posições bem diferentes do papai-e-mamãe e usavam até mesmo métodos anticoncepcionais. Pelo menos é isso é o que indica os estudos feitos baseado em objetos como estátuas e pinturas rupestres.

Então não seria uma característica na medida do aceitável, inerente do homem cultuar a aparência para agradar a pessoa amada? Algo que pode parecer inalcançável sempre motiva esforços para a mudança da situação avessa, uma busca constante de algo inatingível, o que no universo mais trivial do senso comum se acostumou ser atribuição do amor que Platão tanto falou. Esse é lugar comum na confusão do amor platônico com o amor não correspondido ou desprovido de interesse sexual. Na realidade, o filósofo não exclui o amor carnal, e sim o vê como um primeiro degrau (primeiro passo) que pode levar a outros mais elevados.

O patamar mais elevado seria o “Amor Essencial”, e óbvio que o caminho até esse estágio superior alguns outros degraus são necessários. E evidente que eles suguem nas relações entre indivíduos, sejam do sexo oposto ou não. Amor, essencial ou não, no primeiro degrau (sexo) ou no todo, é uma relação do eu com o outro, assim como a filosofia. Entendo que só existe filosofia porque enquanto humanos somos no plural, se fosse o contrario o nada seria. Como o humano é corpo e sentimento, ambos têm de estar integrados para que se possa ser em plenitude. Ao mesmo tempo, a existência é prática e acontece num tempo mediante um atuar. Ao tratar de procurar amor essencial com o sexo como primeiro passo, estamos, assim, tratando do sentir e do agir na esfera mais delicada de toda relação humana. 

Ainda em Platão, no mito da "parelha alada", o cavalo de mau gênio representa a concupiscência - o vício, a cobiça e as práticas sexuais exacerbadas. Na sua corrida indômita, ele desvia-se do caminho reto, levando junto o cocheiro e o outro cavalo. Nessa alegoria, o cocheiro representa o intelecto, que oscila entre os impulsos antagônicos dos dois cavalos: um obediente, que simboliza a coragem; o outro, rebelde, que guia-se pela extravagância dos sentidos. Na alegoria platônica nos dias atuais, o cocheiro (intelecto) perdeu o controle do seu carro. O corpo flana em uma fauna de prazeres, enquanto a razão desce as escarpas.

Não quero fazer parte de uma luta travada entre o amor das aparências contra o amor mais verdadeiro e imaterial, tudo o que desejo é poder celebrar as conquistas pontificadas pelas minhas especificidades, por minhas paixões, pelo conhecimento emancipador de meus limites. Evidentemente, essas ditas conquistas se fazem companheiras de uma libertação moral, sexual e afetiva sem precedentes. Como indivíduo contemporâneo não quero saber de enigmas, eu me inspiro em uma vida material que preencha todos os mistérios, todas as faltas. Minha libertação de afetos se chegou e serve bem ao meu plano de realização dos desejos, tomando como centro de tudo meu próprio corpo. É aí que se dá a encenação de minhas angústias.

Não nasci acabado e pronto para amar. Isso é um processo que se aprende com esforço e repetição, e ainda estou engatinhando no caminho do amor, e meu eu, quer apenas quem estiver consciência que o caminho é longo, difícil e pode assim como nas alegorias de Platão, acabar em uma caverna escura.

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