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sábado, 11 de julho de 2015

PERGUNTO-ME POR QUAIS CAMINHOS CHEGAMOS ONDE ESTAMOS?

Gosto de achar que as pessoas se surpreendem com o que escrevo, e isso não é necessariamente verdade, eu disse que gosto de achar, e não que de fato elas se surpreendem. Contudo, sempre me esforço pra escrever algo desafiador, fico imaginado escrever algo que lhes façam pensar, gostaria de poder escrever palavras tão desafiantes que seriam capazes de cortar seus olhos e sua mente como a lâmina de uma faca. Então decidi afirmar, mesmo que doa em todos, que nossa geração decididamente é aquela que Platão dizia fazer morada em uma caverna. A nossa relação com a vida atual, diferentemente das gerações passadas, vive sem escolha, iludidos e compelidos a saborear apenas sombras, sombras deixadas aqui pela tecnologia e seus tentáculos modernos de aprisionamento.
Durante muito tempo achávamos que a televisão era a prisão ideológica imaginada pelo filósofo, mas quando era só ela podia-se optar por assistir ou não a TV, e mesmo fazendo essa opção, nossas cabeças estavam erguidas, hoje não temos escolha de "não integrar-se à vida digital". Desde nossas contas no banco, médico, cinema, compras, relações afetivas, quase tudo se dá no mundo digital, e logo isso tudo será exclusivamente feito online, o que significa que quem não está na rede se encontra excluído de dimensões sociais essenciais na vida.  É uma Geração de Cabeça Baixa.
O ser de Cabeça Baixa passar a semana planejando com a ponta dos dedos ir a uma festa, lá os planos é encontrar seus sonhos de intensificação afetiva e curtir boas horas com seus amigos, mas tão logo ele chega na festa, você o notará, por diversos momentos, ele entre alguns jovens, que na maior parte dos momentos, também e assim como ele estão de cabeça baixa, olhando para um artefato tecnológico na palma de sua mão que os poupa da sensação de falta de controle de suas vidas, mas a vida real, do momento presente, da pele, do cheiro, do olhar nos olhos, dos abraços demorados e risos eufóricos.
Somos seres aleijados socialmente. É só olhar ao redor, num bar, numa reunião familiar, na Universidade, ou mesmo na intimidade do casal, o smartphone parece uma extensão do corpo do usuário ao qual ele precisa recorrer em intervalos controlados de tempo. É um aleijado e sua prótese é o aparelho responsável por sua conexão com o mundo das sombras. Essa prótese passa a fazer parte da sua constituição física e emocional e vira o responsável nas correlações, com o outro e com a realidade.
O resultado disso é que passamos do meio ao fim sem intensidade alguma. Contudo, não confunda intensidade com profundidade, a profundidade aqui pode concomitantemente significar que estamos ainda mais atolados nas sombras da tecnologia. Nesse caso sigamos o que diz o tal Nietzsche: “Quem observou o mundo em profundidade, percebe quanta sabedoria existe no fato de os homens serem superficiais” (Além do Bem e do Mal, §59).
A superficialidade em ser capaz de enxergar o óbvio e nos questionar por quais caminhos chegamos onde estamos? Quais forças foram as responsáveis pelo retorno a essa caverna? Estamos agora em um terreno difícil de sair, criamos esse atoleiro social, fugimos de nós mesmos e encontramos em um caminho diferente espaços de viver e de se expressar, ou da falta de.
Posso afirmar que sou um “Cabeça Baixa”, mas quero usar meu campo de expressão, pra criar as contingências onde o encontro acontecerá e o que devo fazer pra deixar de ser assim, e principalmente sem me tornar primitivo ao ponto de descartar a importância da tecnologia. Quero deixar de ser passivo, deixar de ser buraco negro que nunca para de engolir matéria sem selecioná-la. Não quero mais ser levados como “folhas ao vento”, basta de ser paradigma da servidão humana. Isso é algo de mim que não sabia. E você vai fazer o que?

Surpreendeu-se? Não? Lógico que não, seu “Cabeça Baixa”. 

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