Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais e até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria ter aceitado as pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração (Titãs - Epitáfio)
Sempre eu ouço essa música fico pensando quantas vezes eu quis voltar no tempo, quantas vezes quis voltar e fazer tudo diferente. Provavelmente, muitos assim como eu um dia também já viajaram nessa possibilidade. Mas hoje descobri que a segunda coisa melhor do que saber aproveitar uma oportunidade na vida é saber quando deixá-la passar. Porém, para além de qualquer sentimento de perda de uma oportunidade, eu compreendo que talvez e somente talvez e se me fosse permitido voltar no tempo, talvez eu fizesse novamente tudo da mesma maneira, talvez "eu erraria tudo exatamente igual [1]". É o que Nietzsche chama de eterno retorno:
O maior dos pesos – E
se um dia, ou uma noite, um demônio lhe aparecesse furtivamente em sua mais
desolada solidão e dissesse: ‘Esta vida, como você a está vivendo e já viveu,
você terá de viver mais uma vez e por incontáveis vezes; e nada haverá de novo
nela, mas cada dor e cada prazer e cada suspiro e pensamento, e tudo o que é
inefavelmente grande e pequeno em sua vida, terão de lhe suceder novamente,
tudo na mesma sequência e ordem – e assim também essa aranha e esse luar
entre as árvores, e também esse instante e eu mesmo. A perene ampulheta do
existir será sempre virada novamente – e você com ela, partícula de
poeira!’. – Você não se prostraria e rangeria os dentes e amaldiçoaria o
demônio que assim falou? Ou você já experimentou um instante imenso, no qual
lhe responderia: “Você é um deus e jamais ouvi coisa tão divina!”. Se esse
pensamento tomasse conta de você, tal como você é, ele o transformaria e o
esmagaria talvez; a questão em tudo e em cada coisa, “Você quer isso mais uma
vez e por incontáveis vezes?‟, pesaria sobre os seus atos como o maior dos
pesos! Ou o quanto você teria de estar bem consigo mesmo e com a vida, para não
desejar nada além dessa última, eterna confirmação e chancela” – Friedrich
Nietzsche, Gaia Ciência, 341
Todos
nós, vivendo a nossa própria vida mais uma vez e logo após essa viveremos
outra, e assim eternamente. Fiquei intrigado com essa proposta nietzschiana. Eu
condenado a viver a mesma existência infinitas vezes, e nada, além disso, e
você como se sentiria? De fato é que um pensamento assim, não é simples de
suportar. Lógico que você deve ta se perguntando, mas minha vida é maravilhosa,
sou rico, saudável, tenho uma ótima família, sou absolutamente feliz, viver
isso eternamente é fácil de assimilar. Eu diria que você ta correto. Contudo, caso
essa vida não tenha dado muito bem pra você, e o sofrimento é recorrente e
doloroso, e se você estiver esperando pela próxima, guiando sua existência e
seus atos por uma pós-vida, neste caso, acho que a decepção lhe aguarda. Pra
mim e nisso acho que concordando com Nietzsche, este pensamento é maior que
todas as religiões e metafísicas, porque mantém o fulcro da ética no real,
não se busca por justificativas além-mundo ou supraterrenas para valorizar esta
existência, ela se justifica por si mesma, é como sempre ouço os próprios
adoradores de pós-mundo falando: "o
inferno é aqui mesmo".
O
que isso quer dizer? Que nós somos os únicos responsáveis por nossas
escolhas e atitudes. E na hipótese de sermos obrigados a vivê-las infinitas vezes, precisamos
fazer o melhor possível, aqui e agora. Precisamos viver de modo que quando
tivermos que repetir tudo outra vez isso seja satisfatório. Então a vida não
tem sentido? Que Maravilha! Melhor assim! Não consigo aceitar minha vida como se já
estivesse justificada por um decreto divino. Como se já estivesse tudo decidido
por algum ser superior. Seja esse ser quem quer que seja?
Portanto, o que é a maior de todas as nossas dificuldades é também o maior de todos os presentes: a vida não
tem sentido! Então dê um sentido na sua vida e não fique colocando a culpa em
Deuses ou em Diabos. Temos a chance, esta sim me parece divina, de sermos responsáveis
por nossa própria criação e pela nossa própria vida e não pelo que acontece
depois que ela termina, mas pelo prazer de vivê-la.
[1] Surfando Karmas & DNA - Engenheiros do Hawaii
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