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sábado, 9 de janeiro de 2016

A METAFÍSICA DE UMA VONTADE REALMENTE PRÓPRIA EM DETRIMENTO A MERA ACEITAÇÃO

O mundo do qual irei tratar agora, nessa primeira publicação do ano de 2016 é a síntese entre o fenômeno da vida, o amor e a morte. Ambas com explicações meramente físicas, sem concepções consoladoras. Posso parecer insensível, mas é o mais sensível que posso ser sem incorrer em preposições metafísicas místicas. As quais há tempo deliberadamente abandonei.

O fundamento básico aqui é o mesmo das obras de um filósofo que estou adorando conhecer, a saber, Arthur Schopenhauer. Ou seja, devo concordar com ele e explicitar que a Teoria da Vontade é o pano de fundo principal de toda e qualquer realidade. A Vontade é como ele mesmo diz a “essência íntima do mundo”. Acredito que nascemos vazios, ateus, apolíticos, apátridas, sem paixões, sem amores, só como fome e frio. Mas o mundo antes de conhecer realmente quem somos, trata de moldar quem eles querem que sejamos. A Vontade dos que vieram antes molda perversamente em uma dicotomia eterna os que acabam de chegar.

Esse o ponto inicial da luta entre o que somos de verdade e o resultado da experiência que aplicam em nós. Rapidamente ganhamos diante de uma visão de sexualidade machista a cor de nossas roupas. Mesmo os que gritam esclarecimento, não se atrevem fazer o enxoval na cor rosa pra o menino que acaba de nascer. Os pais cristãos logo fazem o sinal da cruz, e vai além, camisa do time do pai, ao fundo a música preferida da mãe, enfim, tudo pré-pronto. Diria que o responsável por isso é o desesperado desejo por existência. O homem quer se sentir vivo e para isso faz dos outros o espelho do que gostaria de ser. Para Friedrich Nietzsche “os pais fazem dos filhos, involuntariamente, algo semelhante a eles, a isso denominam 'educação'; nenhum pai discute o direito de guiar o filho aos seus conceitos e valorações".

Contudo, esse desespero não se limita somente aos filhos e não são somente as suas ações, é o mundo em que eles atuam suas ações e mundo não sendo outra coisa que o procedimento que foi emprego neles anteriormente até chegarem a conhecer a si mesmos. Mas quem de fato se conhece realmente, somos quem achamos que somos ou somos o que fizeram de nós? Na filosofia schopenhauriana a Vontade é metafísica e está fora do tempo e do espaço, sendo o amor, enquanto impulso à perpetuação da vida. Aqui discordo do mestre. A Vontade é meramente física, os impulsos que nos levam a direcionar nossas escolhas ancorando-as em ideais de amor e morte é que são moldados pela vontade de terceiros. Não há uma estrutura transcendente da carne: “edite, bibite, post mortem nulla voluptas”. Se não há prazer nem vontade depois, não existirá nada tão pouco antes da morte.

Mas não posso apenas criar um impasse, preciso apresentar uma solução. Então, se de fato não podemos dizer quem realmente somos, podemos pelo menos tentar romper com essa corrente de imposições de Vontades. Mas, como fazer isso? Acredito que o filósofo René Descartes mostra um bom caminho para isso.

Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto; de modo que me era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente desde os fundamentos, se quisesse estabelecer algo de firme e de constante nas ciências. Mas, parecendo-me ser muito grande essa empresa, aguardei atingir uma idade que fosse tão madura que não pudesse esperar outra após ela, na qual eu estivesse mais apto para executá-la; o que me fez diferi-las por tão longo tempo que doravante acreditaria cometer uma falta se empregasse ainda em deliberar o tempo que me resta para agir. (DESCARTES, 1983. § 1)
Desta reflexão, podemos extrair que a Vontade de vida pode e deve se manifestar na atração pelo abandono a tudo que se conhece, isso quer dizer que, o objetivo é fazer uma regressão até o ponto inicial, para sistematicamente ir estabelecendo os princípios de um novo modo de se pensar sobre quem somos e sobre quem queremos ser. Essa proposta nos levará inevitavelmente ao vazio, ao vazio inicial, isso pode a primeira luz assustar, mas do vazio iremos construir um mundo diferente, e pra mim diferente é melhor.

A nossa maior vitória é que vamos parar de seguir dogmas inexplicáveis, vamos parar de cultivar valores misteriosos. Será o fim da herança de ódio travestido de tradição, chegará à época em que iremos parar abraçar ideologias alheias e optaremos pela Vontade realmente própria em detrimento a mera aceitação. A vida será uma dádiva por ela mesma, o amor será a plena realização da vida e morte apenas a certeza de que vivemos “tudo que há pra viver”. 

Um comentário:

  1. Me parece bastante utópico o ultimo paragrafo, entretanto acolheria esse potencial ou utopia e faria o possível para converter no minimo de ato, talvez seja o trabalho de uma vida e seja quase em vão, não por desacreditar potencialmente na especie humana, mas por termos pouco tempo de vida para desenvolver o minimo desse sonho ou objetivo, por isso seria recomendável uma corrente a qual perpetuasse tal potencia ou utopia, o talvez, foi usado por isso, pois quem sabe se realmente seria em vão? quem sabe esse trabalho daria alguns frutos interessantes. Me parece que pessoas sensatas o suficiente guardam na essência adquirida esse objetivo em ultima estancia, o objetivo de mudar o mundo tornando-o melhor de alguma forma, a diferença é que algumas pessoas levam isso a sério.

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