O mundo do qual irei tratar
agora, nessa primeira publicação do ano de 2016 é a síntese entre o fenômeno da
vida, o amor e a morte. Ambas com explicações meramente físicas, sem concepções
consoladoras. Posso parecer insensível, mas é o mais sensível que posso ser sem
incorrer em preposições metafísicas místicas. As quais há tempo deliberadamente
abandonei.
O fundamento básico aqui
é o mesmo das obras de um filósofo que estou adorando conhecer, a saber, Arthur
Schopenhauer. Ou seja, devo concordar com ele e explicitar que a Teoria da Vontade é o pano de fundo
principal de toda e qualquer realidade. A Vontade é como ele mesmo diz a “essência íntima do mundo”. Acredito que
nascemos vazios, ateus, apolíticos, apátridas, sem paixões, sem amores, só como
fome e frio. Mas o mundo antes de conhecer realmente quem somos, trata de
moldar quem eles querem que sejamos. A Vontade dos que vieram antes molda perversamente
em uma dicotomia eterna os que acabam de chegar.
Esse o ponto inicial da
luta entre o que somos de verdade e o resultado da experiência que aplicam em
nós. Rapidamente ganhamos diante de uma visão de sexualidade machista a cor de
nossas roupas. Mesmo os que gritam esclarecimento, não se atrevem fazer o
enxoval na cor rosa pra o menino que acaba de nascer. Os pais cristãos logo
fazem o sinal da cruz, e vai além, camisa do time do pai, ao fundo a música
preferida da mãe, enfim, tudo pré-pronto. Diria que o responsável por isso é o desesperado
desejo por existência. O homem quer se sentir vivo e para isso faz dos outros o
espelho do que gostaria de ser. Para Friedrich Nietzsche “os pais fazem dos filhos, involuntariamente, algo semelhante a eles, a
isso denominam 'educação'; nenhum pai discute o direito de guiar o filho aos
seus conceitos e valorações".
Contudo, esse desespero
não se limita somente aos filhos e não são somente as suas ações, é o mundo em
que eles atuam suas ações e mundo não sendo outra coisa que o procedimento que foi
emprego neles anteriormente até chegarem a conhecer a si mesmos. Mas quem de
fato se conhece realmente, somos quem achamos que somos ou somos o que fizeram
de nós? Na filosofia schopenhauriana a Vontade é metafísica e está fora do
tempo e do espaço, sendo o amor, enquanto impulso à perpetuação da vida. Aqui
discordo do mestre. A Vontade é meramente física, os impulsos que nos levam a
direcionar nossas escolhas ancorando-as em ideais de amor e morte é que são
moldados pela vontade de terceiros. Não há uma estrutura transcendente da
carne: “edite, bibite, post mortem nulla
voluptas”. Se não há prazer nem vontade depois, não existirá nada tão pouco
antes da morte.
Mas não posso apenas
criar um impasse, preciso apresentar uma solução. Então, se de fato não podemos
dizer quem realmente somos, podemos pelo menos tentar romper com essa corrente
de imposições de Vontades. Mas, como fazer isso? Acredito que o filósofo René
Descartes mostra um bom caminho para isso.
Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus
primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que
aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser
senão mui duvidoso e incerto; de modo que me era necessário tentar seriamente,
uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera
crédito, e começar tudo novamente desde os fundamentos, se quisesse estabelecer
algo de firme e de constante nas ciências. Mas, parecendo-me ser muito grande
essa empresa, aguardei atingir uma idade que fosse tão madura que não pudesse
esperar outra após ela, na qual eu estivesse mais apto para executá-la; o que
me fez diferi-las por tão longo tempo que doravante acreditaria cometer uma
falta se empregasse ainda em deliberar o tempo que me resta para agir.
(DESCARTES, 1983. § 1)
Desta reflexão, podemos
extrair que a Vontade de vida pode e deve se manifestar na atração pelo
abandono a tudo que se conhece, isso quer dizer que, o objetivo é fazer uma
regressão até o ponto inicial, para sistematicamente ir estabelecendo os
princípios de um novo modo de se pensar sobre quem somos e sobre quem queremos
ser. Essa proposta nos levará inevitavelmente ao vazio, ao vazio inicial, isso
pode a primeira luz assustar, mas do vazio iremos construir um mundo diferente,
e pra mim diferente é melhor.
A nossa maior vitória é
que vamos parar de seguir dogmas inexplicáveis, vamos parar de cultivar valores
misteriosos. Será o fim da herança de ódio travestido de tradição, chegará à época
em que iremos parar abraçar ideologias alheias e optaremos pela Vontade
realmente própria em detrimento a mera aceitação. A vida será uma dádiva por
ela mesma, o amor será a plena realização da vida e morte apenas a certeza de
que vivemos “tudo que há pra viver”.
Me parece bastante utópico o ultimo paragrafo, entretanto acolheria esse potencial ou utopia e faria o possível para converter no minimo de ato, talvez seja o trabalho de uma vida e seja quase em vão, não por desacreditar potencialmente na especie humana, mas por termos pouco tempo de vida para desenvolver o minimo desse sonho ou objetivo, por isso seria recomendável uma corrente a qual perpetuasse tal potencia ou utopia, o talvez, foi usado por isso, pois quem sabe se realmente seria em vão? quem sabe esse trabalho daria alguns frutos interessantes. Me parece que pessoas sensatas o suficiente guardam na essência adquirida esse objetivo em ultima estancia, o objetivo de mudar o mundo tornando-o melhor de alguma forma, a diferença é que algumas pessoas levam isso a sério.
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