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segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Descobri da Pior Maneira Possível!

Descobri, e devo acrescentar que foi da pior maneira possível, que quando se tem insônia você nunca dorme de verdade e você nunca acorda de verdade. Já não sei com clareza distinguir se algumas coisas realmente aconteceram ou foram sonhos. Outro dia sonhei que acordava de um sonho e na verdade continuava dormindo, como saber se agora de fato estou acordado? Sempre tive uma atividade durante o sono muito intensa, além do normal em relação à maioria das pessoas, sonho muito. Acho que a minha insônia e os meus sonhos são manifestações da polaridade de querer sempre vigiar sem fim, mesmo na escuridão da noite, isso vez por outra me faz estar em atividade dentro do sonho, durante o sono.

Mas agora é diferente, agora durmo pouco ou quase nada, me sinto perdido, irritado, cansado, com a cabeça gritando de dor. Não dormir ou dormir com sobressaltos me parece alguma manifestação de um conflito interno do meu eu e sua discordância com os ritmos da natureza do mundo supostamente real. Digo supostamente real, porque como já disse a certeza do real nunca me pareceu tão incerta. Acho que agora entendo Descartes quando ele disse:

Todavia, devo aqui considerar que sou homem e, por conseguinte, que tenho o costume de dormir e de representar, em meus sonhos, as mesmas coisas, ou algumas vezes menos verossímeis, que esses insensatos em vigília. Quantas vezes ocorreu-me sonhar, durante a noite,que estava neste lugar, que estava vestido, que estava junto ao fogo, embora estivesse inteiramente nu dentro de meu leito? Parece-me agora que não é com olhos adormecidos que contemplo este papel; que esta cabeça que eu mexo não está dormente; que é com desígnio e propósito deliberado que estendo esta mão e que a sinto: o que ocorre no sono não parece ser tão claro nem tão distinto quanto tudo isso. Mas, pensando cuidadosamente nisso, lembro-me de ter sido muitas vezes enganado, quando dormia, por semelhantes ilusões. E, detendo-me neste pensamento, vejo tão manifestamente que não há quaisquer indícios concludentes, nem marcas assaz certas por onde se possa distinguir nitidamente a vigília do sono, que me sinto inteiramente pasmado: e meu pasmo é tal que é quase capaz de me persuadir de que estou dormindo. (DESCARTES, 1983. § 9-13)

Mas claro que tento diagnosticar os motivos disso tudo acontecendo comigo, e percebi que às vezes comia ou bebia muito e não dormia bem, outras vezes estava muito ansioso perdia o ar e virava a noite toda na cama. Percebi que sempre quando estava muito agitado vigiava demais a escuridão e perdia o sono. Mas o que tem me assustado agora parece ser o medo de cair no sono profundo e sonhar com algo que não quero ou não posso entrar em contato, isso tem sido o grande responsável por esse mal. Não sei se essa insônia é uma das amostras do stress menos mencionada quando estou ansioso e acordado. Não sei se estou esquecendo ou escondendo algo de mim mesmo.

O ideal seria então conseguir dormir. Contudo, nas poucas vezes que consegui cochilar a emoção do meu não-consciente emerge para a consciência através do tema do sonho, aparece então o centro dos conflitos da questão e da solidão que pareço estar afundado durante as madrugadas escuras. Nessa solidão do sonho lembrado sinto que existe dentro de mim um impulso vital, único e intransferível que ainda não sei identificar o que de fato é. 

Na realidade não sei se quero descobrir os motivos, as razões, não sei se isso importa, só queria que esses sintomas de inquietação intermitentes acabassem. Queria deitar e dormir em paz. Já li vários textos sobre o tema, e uns até romantizam a insônia, me desculpem, mas não há nada de romântico aqui. Só há dor e angústia, e um cérebro pensando tudo ao mesmo tempo, e tenho medo dos meus pensamentos. E por isso que estou escrevendo, pelo medo dos meus pensamentos que são muito maiores do que medo de minhas próprias palavras ou do que vocês vão pensar, sei que podem aceitar, reprovar, consertar ou ignorar. Podem até me chamarem de louco, mas assim eu escutaria uma voz, sozinho com meus pensamentos estou sempre, absolutamente surdo e mudo.

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