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terça-feira, 26 de agosto de 2014

UM QUARTO EMPOEIRADO

Aos que costumam acompanhar minhas simples palavras, já devem ter percebido a frequente utilização da expressão “afeto”, e apesar de na maioria das vezes o “afeto” ser utilizado no sentido de “imenso carinho”, eu uso tal palavra mais na seara de um “sentimento e emoção que se manifestam das mais variadas formas”, tendo mais haver com um estado emocional que se relaciona com a formação de aferição intimista. 

Na esteira desse estado emocional todos nós temos momentos em que nos sentimos tristes, ansiosos, irritados, perdidos ou desesperançados, e os aparentes motivos para essas sensações são os mais diversos, às vezes decorre de uma situação difícil como a sensação de não ter atingido um objetivo profissional ou acadêmico, o fim de uma relação, a morte de alguém amado, enfim, de um modo geral esses momentos são normais diante de uma vida repleta de contingencias e que muitas vezes esbarram em alguém ou alguma força externa aos nossos desejos, absolutamente tão contingentes como nós. A procura pela felicidade é talvez o ponto convergente em todos, e na maioria das ocasiões todos acabam por reorganizar as suas emoções e voltar ao seu nível médio de bem-estar ou de procura da sua felicidade. 

O problema reside no momento em que esse estado de desesperança insiste em não ir embora, quando bate essa tristeza sem causa, quando nada mais parece fazer o menor sentido, e os dias parecem um quarto empoeirado que nada faz além de acumular desilusões e círculos vazios de ódio e solidão. 

Para esse estado de desesperança sem fim, é quase consensual que reside nele o que todos se habituaram a chamar de “o mal do século”. A depressão é um termo sucedâneo do termo melancolia, contudo não tenho a formação adequada para escrever qualquer editorial clínico-conceitual sobre o tema, só quero chamar atenção pra um mal terrivelmente devastador e cada vez mais presente e que é muito mais que uma palavra que vem se tornando cada vez mais comum no vocabulário do homem moderno; é a realidade dolorosa e angustiante de muitas pessoas que sentem-se como que literalmente imersas num fosso de angústia, tristeza, ansiedade e total desencorajamento interior.

Penso que o principal sintoma dessa praga é afetar o estado de humor da pessoa, deixando-a com um predomínio anormal de tristeza, diria ainda, que ela nasce de uma sucessão negativa de temores. Sempre que nos deparamos com uma dificuldade, seja ela qual for prioritariamente pensamos em uma possível saída. Nesse ponto é que a doença ataca. A sensação de impotência é preponderante, e a imagem de uma solução lhe escapa, o fim parece ser o único caminho.

Estar deprimido não é algo fora da condição do ser humano, já disse, é algo normal. A felicidade é momento, a felicidade é ganho de vontade de agir. Pensem comigo: Quanto tempo dura um êxtase de prazer e gozo? Não posso responder por todos, mas em casa, dura no máximo uns 10 segundo; agora qual o tempo de duração de uma enxaqueca? As dores convivem conosco mais constantes do que os prazeres, então como saber quando se ultrapassa a linha da nossa condição normal de existência e passamos para o lado da doença deprimente? Também não sei! 

Só sei que esse mal é algo tão cruel que só o percebemos quando o caminho é quase irreversível. Você é humano e não se condene por isto! Você não é o primeiro e nem o único a passar por isto. Muitos já passaram, muitos estão passando, e outros, ainda vão passar. Agora, só lhe peço independentemente se sua condição de espiritualidade e fé, não se apegue somente em forças místicas. Respeite a si mesmo, procure ajuda dos amigos, da família e de profissionais qualificados. 

Procure saber quais afetos te alegram e afaste-se dos que te entristecem. Patrocinar a própria tristeza é insistir em ser infeliz.

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